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Rotomoldagem e Sherlock Holmes

ARTIGOS TÉCNICOS

Rotomoldagem e Sherlock Holmes

 

 

Acompanho o mercado de rotomoldagem desde 1988, portanto, há 30 anos assisto a grandes desenvolvimentos em matérias-primas e equipamentos.

Hoje possuímos polímeros nacionais e importados que atendem a quase todas necessidades em termos de processamento, resistência e acabamento final da peça.

No quesito equipamentos, há 30 anos atrás, se você quisesse se tornar um empresário neste mercado teria que desenvolver sua própria máquina de rotomoldagem, visto que as importadas, italianas ou americanas, possuíam e ainda possuem preços proibitivos.Agora contamos com ótimas fabricas brasileiras de equipamentos, que inclusive exportam seus produtos.

 Atualmente para iniciar uma empresa de rotomoldagem, toda a assistência que você precisar será oferecida.

Seu fornecedor da máquina de rotomoldagem irá mostrar a facilidade na instalação, na tecnologia embarcada e que a operação da mesma é tão simples que até uma criança com pouco treinamento poderá maneja-la.

Já o fornecedor de polímero terá, sem dúvida, uma resina adequada para seu produto. Ela será tão adequada que a criança com pouco treinamento que citei acima irá produzir centenas de peças ao dia, com uma qualidade excepcional.

Este é o mundo dos sonhos da rotomoldagem, e já vi muitos empresários serem iludidos por estas maravilhas, mas infelizmente o mundo real é um pouco diferente do idealizado pelos nossos fornecedores.

Somente quem está no “ chão de fábrica”, vivendo o dia-a-dia, sabe as centenas de variações que podem ocorrer durante o processo, e que irão determinar se você terá uma peça final com qualidade ...ou não!

 

Como iniciei este texto, temos atualmente equipamentos e polímeros de ótima qualidade, mas acredito que ainda faltam profissionais com o mesmo nível destes itens, para que possamos dar mais credibilidade, confiabilidade e qualidade aos produtos rotomoldados, e com isto desenvolver novos nichos de mercado.

Evidentemente temos profissionais interessados em aprender e entender todas as variáveis do processo. Estes se destacam no mercado e fazem com que suas empresas produzam ótimas peças rotomoldadas.

Mas na grande maioria das empresas o empirismo nos métodos de produção ainda é enorme (do Google: Empírico é um fato que se apoia somente em experiências vividas, na observação de coisas, e não em teorias e métodos científicos. Ou – a que mais gostei -  : o conhecimento empírico é aquele do senso comum, adquirido sem reflexões, desprovido de lógica e racionalidade, sem compreensão das relações de causa e efeito. ).

 

Muitas atividades no processo de rotomoldagem são realizadas porque alguém fez aquele procedimento no passado, então repetimos, sem saber o real significado do ato.

Como exemplo prático posso citar quando uma empresa (que adota o método empírico) recebe um molde para a produção de uma peça nunca produzida:

- Baseado em peças similares se adota o mesmo peso e parâmetros para sua produção.

- Mas invariavelmente, a peça sairá: fina ou grossa, crua ou queimada, deformada, e mais uma centena de defeitos.

Por “tentativa e erro” vai se ajustando o processo até se obter uma peça aparentemente boa. Já escrevi outro artigo sobre isto: http://www.rotomaxi.com.br/noticias/A-IMPORT%C3%82NCIA-DE-UMA-CORRETA-TERMOMETRIA-EM-ROTOMOLDAGEM/721/

Dependendo do tamanho da peça, as perdas neste processo de “tentativa e erro” são mínimas, mas se for um tanque de 100 kg de polietileno, por exemplo, o prejuízo no “acerto” será elevado.

 

A pior situação em uma produção de rotomoldados é quando ocorre, como eu chamo, “magia negra ”: uma peça que era produzida há vários anos com qualidade, de repente começa a sair “errada”... (todos em rotomoldagem já viveram esta situação). Isto porque uma das centenas de variáveis foi alterada, e ninguém sabe exatamente qual.

E você tem que ser melhor que Sherlock Holmes para descobrir qual é a variável culpada. (sou fã do personagem, e porque este é o título do artigo).

Para ser este Sherlock você tem que prestar atenção aos detalhes e conhecer o processo como um todo.

Pergunte a um profissional de rotomoldagem, que tenha contato direto com a produção das peças:

- O que é calor? E temperatura?? Como o calor é transmitido? O que é Polietileno?Etc..etc..

Pela minha experiência posso afirmar que muito poucos saberão responder as questões; então muito poucos serão como Sherlock Holmes na resolução de um problema, pois lhes falta conhecimento.

 

A grande pergunta é: Como dominar o processo de rotomoldagem, e resolver os problemas que surgem diariamente?

A resposta não é simples, pois como explicado, existem centenas de variáveis no processo, então o profissional terá que ter um grande conhecimento para poder entender o problema e achar uma solução.

O profissional que almeja tal nível de sucesso, entre outras capacidades, deverá:

- Estudar muito: ler livros de física, química e rotomoldagem (que na sua maioria são em inglês), para poder entender todos conceitos de termometria, calorimetria, polímeros, etc. Entender o processo como um todo, desde as especificações da matéria-prima, moldes, micronização, pigmentação, processo, acabamento, etc.

- As maquinas atuais possuem sistemas eletrônicos que permitem parâmetros para se adequarem às nossas necessidades (coisa rara no passado), o profissional precisará saber operar plenamente seu equipamento, extraindo dele toda tecnologia embarcada.

- Participar de cursos e palestras sobre o assunto e fazer o máximo de intercâmbio de experiências com outros profissionais do ramo.

- Terá que possuir equipamentos para testes na matéria-prima, na produção e no produto final (granulometria, parâmetros de produção, resistência a impacto, ao ultravioleta, descoloração, etc.), e sabendo interpretar as informações que eles fornecem, avaliar problemas e buscar soluções.

- Treinar toda a sua equipe para entender, pelo menos, os conceitos básicos de rotomoldagem; desta forma quando surgir um problema, várias opiniões fundamentadas em conhecimento e não em “eu acho que é magia-negra” poderão ajudar.

- E muito importante: manter documentado de forma racional todo know-how adquirido (o que deu certo, e o que deu errado); ao longo dos anos é impressionante o volume de informações que adquirimos, mas se não anotarmos, tudo se perde no vácuo da memória.

 Com estas ferramentas básicas em mãos, e com muita atenção a detalhes que passam despercebidos a maioria dos mortais, você será um ótimo rotomoldador, otimizando sua produção e um grande detetive na solução de problemas, melhor até que Sherlock Holmes.